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CLARA NUNES (40 anos)

ID: m914 Categoria: Cantoras/Músicas Date : Monday 24th August 2020 9:00:00 pm Tipo : Image / Photo

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Resenha

Clara Francisca Gonçalves Pinheiro      

 

(Paraopeba/MG, 12 de agosto de 1942)        

(Rio de Janeiro/RJ, 02 de abril de 1983). 

 

Clara Nunes foi uma cantora e compositora brasileira, considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país. Pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, Clara viajou para muitos países representando a cultura do Brasil. Conhecedora das músicas, danças e das tradições africanas, ela se converteu à umbanda e levou a cultura afro-brasileira para suas canções e vestimentas. Clara foi uma das cantoras que mais gravaram canções dos compositores da Portela, sua escola de samba de preferência. Clara também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil discos, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos. Durante toda a sua carreira, vendeu quatro milhões e quatrocentos mil discos. Clara foi considerada pela revista “Rolling Stone como a "nona maior voz brasileira" e, pela mesma revista, a "quinquagésima primeira maior artista brasileira" de todos os tempos. Mais jovem dos sete filhos (José, Maria, Ana Filomena, Vicentina, Branca e Joaquim) do casal Manuel Pereira de Araújo e Amélia Gonçalves Nunes, Clara nasceu em uma família muito humilde do interior de Minas Gerais, no distrito de Cedro, à época pertencente ao município de Paraopeba e que depois se emancipou com o nome de Caetanópolis, onde Clara viveu até os quinze anos. Marceneiro na fábrica de tecidos Cedro & Cachoeira” o pai de Clara era conhecido como "Mané Serrador", também era violeiro e participante das festas de Folia de Reis. Quando Manuel faleceu vítima de atropelamento sua esposa entrou em depressão e morreu de câncer quatro anos depois. Aos seis anos, Clara, já órfã de pais, foi criada por sua irmã Maria, apelidada de (Dindinha) e por seu irmão José, conhecido como (Zé Chilau). Nessa época, Clara participava de aulas de catecismo na matriz da “Cruzada Eucarística”, e cantava ladainhas em latim no coro da igreja. Segundo as suas próprias palavras, cresceu ouvindo Carmen Costa, Ângela Maria e, principalmente, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, das quais sempre teve muita influência, mantendo, no entanto, estilo próprio. Ainda menina, Clara venceu seu primeiro concurso de canto organizado em sua cidade, interpretando "Recuerdos de Ypacaraí". Como prêmio, Clara ganhou um vestido azul. Aos catorze anos, para ajudar no sustento do lar, Clara ingressou como tecelã na fábrica “Cedro & Cachoeira” a mesma para a qual seu pai trabalhara. Clara teve que se mudar às pressas para Belo Horizonte. Clara foi morar com sua irmã Vicentina e seu irmão Joaquim, que viviam na casa de uma tia paterna, por causa do assassinato de seu primeiro namorado, cometido no mesmo ano por seu irmão, (Zé Chilau), que queria defender a honra da irmã, que estava sendo difamada por este rapaz, pois não aceitou o término do relacionamento e estava sendo alvo de comentários maldosos na sua pequena cidade natal. Após o crime, seu irmão ficou muitos anos foragido, reaparecendo quando Clara já era famosa e pôde ajudá-lo a não ser condenado pela justiça. Na capital mineira, Clara trabalhava como tecelã durante o dia inteiro e a noite estudava o curso normal de formação de professoras. Aos finais de semana, Clara participava dos ensaios do coral da igreja, no bairro Renascença, onde vivia com os irmãos, primos e tios. Clara acabou se afastando do catolicismo e junto de sua amiga de infância Lalita, começou a frequentar centros espíritas de mesa branca e se converteu ao kardecismo, onde conseguiu algumas cartas psicografadas dos pais. Naquela época, conheceu o violonista Jadir Ambrósio, conhecido por ter composto o hino do Cruzeiro. Admirado com a voz da adolescente, Jadir levou Clara a vários programas de rádio, como "Degraus da Fama", no qual ela se apresentou com seu nome de batismo, Clara Francisca. Clara Nunes conheceu Aurino Araújo (irmão de Eduardo Araújo), que a levou para conhecer muitos artistas. Aurino também foi seu namorado durante dez anos. Por influência do produtor musical Cid Carvalho, adotou o nome artístico de Clara Nunes, usando o sobrenome da mãe. Já como Clara Nunes e ainda trabalhando como tecelã, ela venceu a etapa mineira do concurso "A Voz de Ouro ABC", com a música "Serenata do Adeus", composta por Vinícius de Moraes e gravada anteriormente por Elizeth Cardoso. Na final nacional do concurso realizado em São Paulo, obteve o terceiro lugar com a canção "Só Adeus" de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. A partir daí, começou a cantar na “Rádio Inconfidência” de Belo Horizonte. Por conta dos compromissos profissionais na área musical e as constantes viagens, Clara teve que deixar o emprego na fábrica de tecidos e também o colégio. Durante três anos seguidos foi considerada a melhor cantora de Minas Gerais. Clara Nunes passou a se apresentar como crooner em clubes e boates da capital mineira e chegou a trabalhar com o então baixista Milton Nascimento - àquela altura conhecido como (Bituca). Naquela época, Clara Nunes fez sua primeira apresentação na televisão, no programa de Hebe Camargo em Belo Horizonte. Clara Nunes ganhou um programa exclusivo na TV Itacolomi, chamado "Clara Nunes Apresenta" exibido por um ano e meio. No programa se apresentavam artistas de reconhecimento nacional, entre os quais Altemar Dutra e Ângela Maria. Clara Nunes viveu em Belo Horizonte até que seu namorado Aurino a orientou, informando que ela teria mais chances de ser famosa se morasse em São Paulo ou no Rio. Como ele tinha família no Rio e conhecia tudo na cidade, Clara se sentiu mais segura e decidiu se mudar para o Rio de Janeiro, vindo de carro com o namorado. Clara Nunes alugou um quarto e passou a viver no bairro de Copacabana, onde viu o mar pela primeira vez, ficando encantada, o que lhe deu mais inspiração musical. Já no Rio, passou a se apresentar em vários programas de televisão, tais como os de José Messias, Chacrinha, o “Almoço Com as Estrelas” e “Programa de Jair do Taumaturgo”. Antes de aderir ao samba, Clara cantava especialmente boleros. Além de emissoras de rádio e televisão, Clara também se apresentava em escolas de samba, clubes e casas noturnas do subúrbio carioca, onde acabou conhecendo terreiros de religião de matriz africana, optando por deixar o kardecismo e se converter ao candomblé. Clara Nunes passou num teste como cantora na gravadora Odeon e registrou pela primeira vez a sua voz num LP. O disco foi lançado pela “Rádio Inconfidência” (onde trabalhou quando morava em Belo Horizonte) e contava com a participação de outros artistas, todos da “Odeon”. Clara Nunes foi contratada por esta gravadora, a primeira e a única em toda a sua vida. O primeiro LP oficial da cantora foi "A Voz Adorável de Clara Nunes". Por insistência da gravadora para que ela interpretasse músicas românticas, Clara apresentou neste álbum um repertório de boleros e sambas-canção, mas o LP foi um fracasso comercial. Clara Nunes gravou "Você Passa e Eu Acho Graça", seu segundo disco na carreira e o primeiro onde cantaria sambas. A faixa-título (de Ataulfo Alves e Carlos Imperial) foi seu primeiro grande sucesso radiofônico. A “Odeon” lançou "A Beleza Que Canta", LP no qual a cantora interpretou "Casinha Pequena", uma canção de domínio público e ganhou o primeiro lugar no "I Festival da Canção Jovem de Três Rios" com a música "Pra Que Obedecer" e ainda classificou a canção "Encontro" na terceira colocação. Clara Nunes ficou em oitavo lugar no "IV Festival Internacional da Canção Popular" com a música "Ave Maria do Retirante" que foi lançada naquele mesmo ano em disco homônimo. Clara Nunes se apresentou em Luanda, capital angolana, em convite de Ivon Curi. Clara Nunes rompeu seu noivado e desmarcou seu casamento, que ocorreria dentro de poucos meses com Aurino Araújo, após dez anos de namoro, ao flagrar uma traição dele em uma boate. A cantora gravou seu quarto LP, no qual interpretou "Ê Baiana" música que obteve considerável sucesso no carnaval e "Ilu Ayê", samba-enredo da Portela. Na capa do álbum, a cantora mineira fez um permanente nos cabelos pintados de vermelho e passou a partir daí a se vestir com turbante e vestes brancas, roupas que remetem às religiões afro-brasileiras. Clara Nunes deixou o candomblé e se ligou definitivamente a umbanda, frequentando um terreiro do bairro de Madureira, no Morro da Serrinha. Esta foi a religião a qual se dedicou publicamente com muita e amor, até o fim de sua vida. Clara se firmou como cantora de samba com o lançamento do álbum "Clara Clarice Clara". Com arranjos e orquestrações do maestro Lindolfo Gaya, o disco teve como grandes destaques as canções "Seca do Nordeste", "Morena do Mar”, "Vendedor de Caranguejo", "Tributo aos Orixás" e a faixa-título "Clara Clarice Clara". Clara Nunes se apresentou no "Festival de Música de Juiz de Fora" e gravou um compacto simples da música "Tristeza, Pé no Chão”, que vendeu mais de cem mil cópias. A “Odeon” lançou o disco "Clara Nunes". A cantora estreou com Vinícius de Moraes e Toquinho o show "O Poeta, a Moça e o Violão" no “Teatro Castro Alves”, em Salvador. Clara Nunes foi convidada pela Radiotelevisão Portuguesa para fazer uma temporada em Lisboa. Depois, percorreu alguns outros países da Europa, como, por exemplo, a Suécia, onde gravou um especial ao lado da “Orquestra Sinfônica de Estocolmo” para a TV local. Clara Nunes integrou a comissão que representou o Brasil no "Festival do Midem", em Cannes. Por lá, a “Odeon” lançou somente para o público europeu o disco "Brasília", que foi base para o LP "Alvorecer". Este álbum emplacou grandes sucessos como "Conto de Areia", "Menino Deus" e "Meu Sapato Já Furou". O LP bateu recorde de vendagem para cantoras brasileiras, com mais de trezentas mil cópias vendidas, um feito nunca antes registrado no Brasil. Clara Nunes atuou, ao lado de Paulo Gracindo, em "Brasileiro Profissão Esperança", espetáculo de Paulo Pontes, referente à vida da cantora e compositora Dolores Duran e do compositor e jornalista Antônio Maria. O show ficou em cartaz no Canecão e gerou o disco homônimo. A “Odeon” lançaria ainda o LP "Claridade". Com grandes sucessos como "O Mar Serenou" e "Juízo Final”, este álbum se tornou o maior sucesso da carreira da cantora, batendo o recorde de vendagem feminina e alavancando o samba-enredo da Portela na avenida, "Macunaíma, Herói da Nossa Gente", com o qual a escola se classificou em quinto lugar no grupo um. Clara Nunes se casou com o poeta, compositor e produtor Paulo César Pinheiro e acrescentou o sobrenome do marido ao seu, na carteira de identidade. Após a união, percorreu diversos países da Europa em turnê e em lua-de-mel. Clara Nunes gravou o LP "Canto das Três Raças”. Além da faixa-título, grande sucesso na carreira da cantora, o disco contava ainda com "Lama", "Tenha Paciência", "Riso e Lágrimas”, "Fuzuê" e "Retrato Falado”. Clara Nunes lançou o disco "As Forças da Natureza", um álbum mais dedicado ao partido alto. O LP teve como principais destaques a faixa-título, "Coração Leviano" e "Coisa da Antiga. O disco ainda contou com a participação de Clementina de Jesus na faixa "PCJ-Partido da Clementina de Jesus" e lançou "À Flor da Pele", primeira composição de Clara feita em parceria com Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro. No mesmo ano, Clara Nunes lançou os álbuns "Guerreira", no qual interpretou vários ritmos brasileiros além do samba - sua marca registrada - e "Esperança", com destaque para a faixa "Feira de Mangaio" e ainda participou do LP "Vida Boêmiano" no qual interpretou "Bela Cigana" e esteve - ao lado de Chico Buarque de Holanda, Maria Bethânia e outros artistas - no show do “Riocentro”, que marcaria a história política brasileira devido à explosão de uma bomba. Clara Nunes participou do LP "Clementina", de Clementina de Jesus. Clara Nunes se submeteu a uma histerectomia, após sofrer seu terceiro aborto espontâneo, por causa dos miomas que possuía no útero, que estavam comprometendo muito a sua saúde. Clara tentou diversos tratamentos, tanto médicos quanto espirituais, para se tornar mãe, mas não obteve respostas satisfatórias. Por nutrir obsessão pela maternidade, a impossibilidade definitiva de engravidar a fez sofrer muito. Nessa época, doou para um orfanato toda a coleção de bonecas que tinha guardado desde a infância, pois sonhava em ter uma filha para presenteá-la com as bonecas que um dia haviam sido suas. O fato de não ter conseguido gerar um filho, causou fortes abalos emocionais, superados pela entrega absoluta à carreira artística, fazendo-a interpretar com muita inspiração músicas belíssimas e de intensa carga emocional. Clara Nunes gravou o álbum "Brasil Mestiço", que fez sucesso nas emissoras de rádio de todo o país com "Morena de Angola“, "Brasil Mestiço, Santuário da Fé”, "Peixe com Coco”, "Última Morada" e "Viola de Penedo”. Clara Nunes participou dos LPs "Cabelo de Milho" de Sivuca e "Fala Meu Povo" de Roberto Ribeiro e viajou para Angola representando o Brasil ao lado de Elba Ramalho, Djavan, Dorival Caymmi e Chico Buarque, entre outros. Clara Nunes gravou o LP "Clara", com grande sucesso para a música "Portela na Avenida", com a participação especial da Velha Guarda da Portela nesta faixa e estreou o show "Clara Mestiça" dirigido por Bibi Ferreira e lançou uma coletânea intitulada "Sucesso de Ouro". Clara Nunes lançaria "Nação", o último álbum de estúdio da cantora. O LP teve como destaques a faixa-título, "Menino Velho”, "Ijexá”, "Serrinha" - uma homenagem dos compositores à escola de samba “Império Serrano” e ao “Morro da Serrinha”, reduto do jongo, situadas em Madureira, subúrbio carioca. Clara Nunes se apresentou na Alemanha ao lado de Sivuca e Elba Ramalho e participou do LP "Kasshoku", lançado no Japão pela gravadora “Toshiba/EMI” gravando um especial para a emissora de TV NHK. Clara Nunes gravou cerca de trinta discos, sendo alguns de estúdio, outros ao vivo, e alguns foram tributos a ela, após sua morte.  Um documento confidencial do Centro de Informações do Exército" mencionou Clara Nunes em uma lista de artistas que colaboravam com a ditadura militar de 1964 (mais precisamente, segundo o documento, artistas que "se uniram à Revolução no combate à subversão" ou "estão sempre dispostos a uma efetiva cooperação com o Governo"). O documento tratava de suposta campanha difamatória realizada por veículos da imprensa contra esses artistas. A informação foi considerada surpreendente por Vagner Fernandes, biógrafo da cantora. Segundo ele, Clara não era muito envolvida com política. Ela chegara a gravar versão de "Apesar de Você", canção de Chico Buarque com letra crítica ao regime, mas - também segundo seu biógrafo - o fizera sem se dar conta dessa temática implícita. Clara foi fazer uma leve cirurgia, para retirada de varizes, mas teve uma reação alérgica a um anestésico e sofreu parada cardíaca permanecendo vinte e oito dias internada. Neste ínterim, a cantora foi vítima de uma série de especulações que circulavam nos meios de comunicação sobre sua internação, entre elas, inseminação artificial, aborto, tentativa de suicídio, uso de drogas e violência doméstica, todas comprovadamente falsas. Clara Nunes foi declarada morta em razão de um choque anafilático.

 

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