Vida Amélia Guedes Alves
(Itanhandu/MS, 15 de abril de 1928)
(São Paulo/SP, 03 de janeiro de 2017).
Vida Alves foi uma atriz e escritora brasileira, pioneira da televisão. Com mais de sete décadas de carreira, ela começou trabalhando no rádio, passou para as telenovelas, contracenou com grandes nomes como Tarcísio Meira, Glória Menezes, Eva Wilma e Aracy Balabanian, fez carreira no cinema, apresentou programas na TV e escreveu novelas. Apresentou, juntamente com Carlos Lemos, o programa “Jogo do Som”, transmitido por inúmeras emissoras em todo o país, onde mostravam fatos curiosos e realizavam esquetes de atuação, sempre diferenciadas a cada programa. Vida Alves é avó da cantora e compositora Tiê e tia do cineasta Lael Rodrigues. Vida Alves marcou a história da televisão brasileira ao protagonizar junto com o ator Walter Forster o primeiro beijo em novela em “Sua Vida Me Pertence" que na época era transmitida ao vivo pela TV Tupi. A atriz explicou, numa entrevista, que não havia nenhuma referência de como reproduzir um beijo técnico, sendo que a cena foi realizada sem ensaio: "Walter Forster era o diretor artístico e de certa forma meu chefe. Ele explicou ao meu marido, numa visita à minha casa, como seria. Absolutamente marcado. Tal postura, tal olhar, a boca ligeiramente aberta, me aproximo e fico uns segundinhos. Assim foi feito, sem ensaio, tudo ao vivo. Foi esteticamente bonito, romântico e simples". As produções eram transmitidas ao vivo, uma vez que ainda não existia videotape para gravação na época, sendo que apenas um fotógrafo registrava as cenas dos bastidores. No entanto, o fotógrafo da emissora se recusou a registrar o beijo, alegando que nenhum jornal publicaria o feito por ser escandaloso demais para a época, não tendo nenhum registro da cena. Vida Alves também realizou o primeiro beijo homossexual da televisão brasileira com Geórgia Gomide em um dos episódios do programa “TV de Vanguarda”, intitulado “Calúnia” na TV Tupi. Na história Vida e Geórgia interpretavam diretoras de um internato para meninas que eram caluniadas por uma estudante rebelde, dizendo que as duas eram amantes, o que levou os pais a tirarem as filhas do colégio sucessivamente, levando-o a fechar as portas. Falidas, as duas acabam descobrindo que realmente se amavam e se beijando no final da história. Em entrevista para a revista “Época” em 2011, Vida contou que não houve qualquer tipo de discriminação por parte do público: "A cena foi comentada, mas não senti qualquer sentimento agressivo das pessoas em relação a mim. Tenho certeza que me julgaram, mas não me atacaram". Na época, apesar de não existir videotape ainda, a cena foi fotografada, porém acabou se perdendo após o fechamento da emissora. Vida revelou em entrevista que havia encontrado uma foto da ocasião, mostrando-a pela primeira vez após cinquenta e três anos do acontecimento. Vida Alves se tornou membro da “Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira” e presidente do “Museu da TV”, com o objetivo de preservar a memória dos pioneiros da televisão brasileira, buscando filmagens e arquivos das produções mais antigas realizadas no país para serem restauradas e compartilhadas com a posteridade. Vida foi homenageada na minissérie “Um Só Coração” da TV Globo, sendo interpretada na obra pela atriz Isabel Guerón. A editora “Imprensa Oficial” lançou sua biografia autorizada, “Vida Alves: Sem Medo de Viver”, de autoria do escritor e dramaturgo Nélson Natalino, membro da “Academia Guarulhense de Letras”. Vida Alves lançou o livro “Televisão Brasileira: O Primeiro Beijo e Outras Curiosidades”, contando não só das cenas citadas, mas também dos primórdios da televisão brasileira e como eram produzidas as primeiras novelas. No cinema, Vida Alves participou dos filmes “Quase no Céu”, “Paixão Tempestuosa” e “A Pequena Orfã”. Na TV, Vida Alves fez ainda “Uma Semana de Vida”, “O Destino Desce de Elevador”, “A Mão de Deus”, “O Pimpinela Escarlate”, ”Os Três Mosqueteiros”, “Fim de Semana no Campo”, “A Estranha Clementine”, “Terror nas Trevas”, “Klauss, o Loiro”, “Moulin Rouge, a Vida de Toulouse-Lautrec”, “A Gata”, “O Mestiço”, “A Outra”, “O Amor Tem Cara de Mulher”, “O Pequeno Lord”, “Meu Filho, Minha Vida”, “O Rouxinol da Galileia”, “Sozinho no Mundo”, “Os Estranhos” e “Dez Vidas”. Nos primórdios da TV, Vida Alves fez o “TV de Vanguarda” nos episódios “Os 39 Degraus”, “O Aventureiro”, “Cartas Venenosas”, “Eugênia Grandet” e “O Delator”. No “TV Comédia” fez os episódios “Inimigos Públicos”, “Chica Boa”, “O Marido da Deputada”, “O Outro André” e “Bombonzinho”. Vida Alves era viúva do engenheiro italiano Gianni Gasparinetti, dois filhos, Heitor Ernesto e Thaís. Vida Alves morreu em consequência de falência múltipla dos órgãos.