Maysa Figueira Monjardim
(São Paulo/SP, 06 de junho de 1936)
(Niterói/RJ, 22 de janeiro de 1977).
Maysa foi uma cantora, compositora e atriz brasileira. Segundo algumas fontes, Maysa teria nascido na capital paulista, de uma tradicional família proveniente do estado do Espírito Santo, que logo se mudou para o Rio de Janeiro. Outras fontes, porém, afirmam que seu nascimento foi no Rio. A família se transferiu para Bauru, no interior paulista. Maysa era neta do barão de Monjardim que foi presidente da província do Espírito Santo por cinco vezes. Maysa estudou no tradicional "Colégio Assunção", no "Ginásio Ofélia Fonseca" e no "Sacré-Cœur de Marie" em São Paulo. Maysa se casou aos dezoito anos com seu noivo, o empresário André Matarazzo, passando a assinar Maysa Monjardim Matarazzo. Seu marido era membro de importante ramo ítalo-brasileiro da família Matarazzo. Com pouco tempo de casados nasceu Jayme Monjardim Matarazzo. O Jayme Monjardim diretor de cinema e novelas. Maysa se desquitou do marido e voltou a usar seu sobrenome de solteira, Figueira Monjardim e ficava furiosa quando havia alguma matéria jornalística ligando seu nome ao sobrenome Matarazzo. Maysa teve que escolher entre o filho e a carreira. Para lhe dar um futuro melhor, optou pela carreira e seu filho passou parte da infância sendo criado pelo pai e sua nova esposa. A sua agitada vida de cantora foi marcada por muitas viagens e também por muitos amores, Maysa teve vários relacionamentos, entre eles, com o compositor Ronaldo Bôscoli, com o cantor Roberto Carlos, com o empresário espanhol Miguel Azanza, com quem casou. Maysa manteve um caso com o maestro Júlio Medaglia quando viajou para Buenos Aires, depois dele namorou o ator Carlos Alberto de quem também foi esposa, entre vários outros. Maysa foi convidada, durante uma reunião familiar, pelo produtor Roberto Côrte-Real para gravar um disco. O álbum “Convite Para Ouvir Maysa”, todo preenchido com composições próprias foi gravado logo após o nascimento de seu único filho Jayme Monjardim. O disco gravado apenas em caráter beneficente - toda sua renda fora destinada ao "Hospital do Câncer" de Dona Carmen Annes Dias Prudente - logo começou a fazer sucesso, tocando nas rádios paulistas e cariocas. Pouco a pouco, a carreira de Maysa foi adquirindo um caráter profissional, o que descontentou seu marido André Matarazzo e logo levou seu casamento à ruína. Maysa era contratada da TV Record paulista, com um programa só seu, patrocinado pela "Abrasivos Bombril", tendo acabado de gravar seu segundo disco, de dez polegadas, intitulado “Maysa”. Com menos de um ano de carreira, no julgamento anual dos cronistas de rádio de São Paulo, para a escolha de “Os Melhores do Ano”, Maysa foi apontada como “A Maior Revelação Feminina”, “O Melhor Compositor” e “O Melhor Letrista”. O "Clube dos Cronistas de Discos" lhe concedeu o título de “A Maior Cantora do Ano”. Maysa foi premiada por dois anos consecutivos com o disputado “Troféu Roquette Pinto”. A primeira como cantora revelação e a segunda como melhor cantora. O jornal "O Globo", que havia conferido a ela o “Disco de Ouro” de cantora revelação, agora também a premiava como a principal voz feminina do país. Também seria de Maysa o “Troféu Chico Viola” para o melhor disco. Desquitada, se muda para o Rio de Janeiro, então capital federal e se torna contratada da TV Rio, com um programa só seu patrocinado pelos “Biscoitos Piraquê”. Maysa lança seu terceiro disco - agora de doze polegadas - intitulado “Convite Para Ouvir Maysa nº 2”. O disco foi considerado musicalmente irretocável pela crítica, se tornando campeão de vendas e lançando a canção “Meu Mundo Caiu” como o maior sucesso do ano. Maysa seguiria sua carreira, acumulando diversos prêmios e em crescente ascensão. Seus discos eram campeões de vendas e seus programas de televisão eram muito prestigiados. Maysa se tornaria a melhor e mais bem paga cantora do Brasil. Maysa aprimorou constantemente a técnica vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica o auge de sua carreira. Maysa empreendeu inúmeras excursões pelo mundo, se apresentando em vários países, além de aderir ao movimento da “Bossa Nova” com o qual pode expandir referências musicais. Um grupo formado por Roberto Menescal, Luiz Eça, Luís Carlos Vinhas, Bebeto Castilho, Hélcio Milito e Ronaldo Bôscoli foi responsável pelo lançamento da “Bossa Nova” no exterior. Maysa teve uma intensa carreira internacional. Maysa se tornou a primeira cantora brasileira a se apresentar no Japão a convite da companhia área brasileira "Real Aerovias" que acabara de estrear o vôo Rio de Janeiro - Tóquio. Maysa excursionou pela América Latina, passando por Buenos Aires, Montevidéu, Punta Del Leste, Lima, Caracas, Bogotá, Porto Rico e Cidade do México. Maysa se apresentou em Paris, Lisboa, Madri, Nova Iorque, Itália, Marrocos e Angola. Lá, se apresentava em casas noturnas e gravava discos. Maysa realizou temporada nos Estados Unidos, gravando o lendário álbum “Maysa Sings Songs Before Dawn” pela “Columbia Records” norte-americana. Lá, Maysa se apresentou no sofisticado “Blue Angel Night Club” a mais requintada casa noturna de Nova Iorque à época. Maysa protagonizou um histórico concerto no “Olympia” de Paris, naquela que é a mais famosa casa de espetáculos da capital francesa. Maysa participou do “II Festival da Música Popular Brasileira” da TV Record, classificando a canção, de sua autoria em parceria com a compositora Vera Brasil, “Amor-Paz” para a finalíssima juntamente com “Disparada” defendida por Jair Rodrigues e “A Banda” de Chico Buarque defendida por ele e Nara Leão. Maysa também participou da primeira edição do “Festival Internacional da Canção”. Neste último alcançou o terceiro lugar na fase nacional e o prêmio de melhor intérprete brasileira do festival, defendendo a canção “Dia das Rosas” de Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo. Desbancando totalmente a vencedora “Saveiros” interpretada por uma então novata Nana Caymmi. Maysa retornou definitivamente ao Brasil. Estreou “Maysa Especial” com Ítalo Rossi na TV Tupi do Rio de Janeiro e o espetáculo “A Maysa de Hoje” gravado em disco, com temporadas no "Canecão" do Rio de Janeiro e no "Urso Branco" de São Paulo, obtendo sucesso de crítica e público. Pouco tempo depois, Maysa participou como jurada do “V Festival da Música Popular Brasileira” da TV Record. E do “IV Festival Internacional da Canção” com a música “Ave-Maria dos Retirantes” de Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo que não se classificou para a final. Naquela edição, o “Troféu Galo de Ouro” - premiação máxima do festival - ganhou o nome de Maysa Monjardim. Maysa lança pela "Philips" o álbum “Ando Só Numa Multidão de Amores” que não obteve sucesso de público. Maysa passou então a investir na carreira de atriz e estreou na novela “O Cafona” da TV Globo, interpretando (Simone), seu alter-ego. Por esse papel, Maysa acabou ganhando o prêmio de “Coadjuvante de Ouro”. Maysa integrou ainda o elenco das novelas “Bravo” da TV Globo e “Bel-Ami” da TV Tupi, interpretando (Márica), mas abandonou a produção. Maysa montou o espetáculo teatral “Woyzeck” de George Büchner, sem sucesso. Após algumas temporadas em boates do Rio de Janeiro e São Paulo, Maysa se afastou do meio artístico e foi morar em uma casa de praia, localizada no município de Maricá, litoral fluminense. Lá, morou até o fim da vida, na maior parte em companhia do namorado, o ator Carlos Alberto. Durante este período, quase não gravou discos nem fez shows, fazia poucas aparições na mídia e reservava suas aparições a participações especiais, como no “Fantástico” e no “Brasil Especial” da TV Globo. Maysa realizou alguns dos últimos shows de sua carreira na boate "Igrejinha", localizada em São Paulo. A temporada, pouco tempo depois, ficaria marcada como “a turnê do adeus”. As composições e as canções foram escolhidas de maneira a formar um repertório sob medida para o seu timbre, que não era o de uma voz vulgar, pelo contrário, possuía um viés melancólico e triste, que se tornou emblemático do gênero fossa ou samba-canção. Ao lado de Maysa, se destacam, no gênero, Nora Ney, Ângela Maria e Dolores Duran. O gênero, comparado ao bolero pela exaltação do tema amor-romântico ou pelo sofrimento de um amor não realizado, foi chamado também de dor-de-cotovelo. O samba-canção antecedeu o movimento da “Bossa Nova” com o qual Maysa também se identificou. Mas este último representou um refinamento e uma maior leveza nas melodias e interpretações em detrimento do drama e das melodias ressentidas, do gênero "dor-de-cotovelo". O legado de Maysa ainda que aponte para dívidas históricas com a bossa é o de uma cantora de voz mais arrastada do que as intérpretes da bossa e por isso se aproxima antes do bolero. Contemporânea da compositora e cantora Dolores Duran, Maysa compôs trinta canções, numa época em que havia poucas mulheres nessa atividade. Maysa interpretava de maneira muito singular, personalista, com toda a voz, sentimento e expressão, sendo um dos maiores nomes da canção intimista. Um canto gutural, ensejando momentos de solidão e de grande expressão afetiva. Um dos momentos antológicos desta caracterização dramática foi a apresentação de “Chão de Estrelas” Sílvio Caldas e Orestes Barbosa e de “Ne Me Quitte Pas” tendo sido apresentadas em duas edições do programa “Fantástico” da TV Globo. Todo este característico “Estilo Maysa” influenciou ao menos meia dúzia de sua geração e principalmente a geração posterior a sua. Este “Estilo Maysa” se tornou notável em cantores e compositores, como Ângela Rô Rô, Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Simone e também Cazuza e Renato Russo. A escola de samba “Acadêmicos do Grande Rio” prestou uma homenagem à Maysa, desenvolvendo o enredo "Verdes Olhos Sobre o Mar, no Caminho: Maricá", no que seria “a visão de Maricá” pelo olhar de Maysa. Maysa sofria de alcoolismo. Maysa vivia isolada, em depressão, em sua casa de praia em Maricá. No fim da tarde do dia de casamento do seu filho, voltando de carro para Maricá, um acidente automobilístico na Ponte Rio Niterói deu fim a sua vida.