Jorge Neves Bastos
(Rio de Janeiro/RJ, 16 de janeiro de 1926)
(Rio de Janeiro/RJ, 17 de março de 2012).
Jorge Goulart foi cantor, ator, musico e compositor brasileiro com atuação em música, rádio, teatro, cinema e TV. Também atuou como empresário dono da boate "Feitiço da Vila". Jorge era filho do jornalista Iberê Bastos e da dona de casa Arlete Neves Bastos, sendo o primeiro dos quatro filhos. Desde cedo, Jorge demonstrou interesse pela música, mas os pais queriam que ele fosse advogado. De qualquer forma, permitiram que ele tivesse aulas de música clássica junto com a mãe, que estudava canto e piano. Por intermédio do pai, que conseguiu a ajuda de pessoas influentes, Jorge foi estudar no “Colégio Pedro II”. Aos doze anos, Jorge testemunhou um de seus professores favoritos, José Oiticica ser preso dentro da escola por uma tropa comandada pelo “Estado Novo”. O episódio foi o estopim para que se colocasse contra a opressão. Também por meio de seu pai, que escrevia sobre o mundo dos espetáculos, Jorge teve contato com os nomes musicais em evidência. Conheceu, aos dezessete anos, o compositor Custódio Mesquita, que o sugeriu fazer um teste na “RCA Victor”, onde era diretor musical e ainda lhe ofereceu uma composição recente sua com Evaldo Rui, "Saia do Meu Caminho". Na época, Jorge já não era inexperiente, pois realizava serestas pelo Andaraí e cantava em um circo. O teste de Jorge na gravadora foi bem-sucedido e ele passou a divulgar com exclusividade as músicas de Custódio. Na mesma época, o compositor Valzinho o apresentou a Bacurau, diretor do programa “Escadas de Jacó”, da “Rádio Educadora”. Jorge Goulart passou a se apresentar semanalmente ao lado de outros artistas novatos como Luiz Gonzaga, Altamiro Carrilho e Marion Duarte. O nome artístico Jorge Goulart veio nesses seus inícios profissionais, por sugestão de Custódio, que ouvia a atriz Heloísa Helena repetir o anúncio "Beba o Elixir de Inhame Goulart". Jorge consultou ainda outras pessoas, como Américo Seixas e Orestes Barbosa, antes de bater o martelo. Quando Custódio morreu os planos para lançar o primeiro disco de Jorge, que teria "Saia do Meu Caminho" como música principal foram congelados. A gravadora exigia a garantia de ao menos mil cópias vendidas antes de autorizar a gravação e, ao mesmo tempo, Evaldo alterou a letra da faixa para uma versão feminina, que foi gravada por Aracy de Almeida. Contudo, no mesmo mês da morte de Custódio, a “RCA” decidiu autorizar a obra, que saiu no mês seguinte com "A Volta" (Benedito Lacerda e Aldo Cabral) no lado A e "Paciência, Coração" (dos mesmos autores) no lado B. O lançamento vendeu quinhebntas cópias, apenas a metade do que o artista e a gravadora haviam projetado. Em setembro do mesmo ano, a gravadora tentou mais uma vez, desta vez com as faixas "Nem Tudo é Possível" (Cícero Nunes e Aldo Cabral) e "Feliz Ilusão" (Castor Vargas e Aldo). O desempenho foi ainda pior que o anterior. O contrato com a “RCA” foi encerrado e Jorge buscou investir em outros meios para sobreviver da música. Com a proibição do jogo no Brasil, muitos cassinos fecharam, mas a atividade continuou sendo executada em locais clandestinos protegidos por policiais corruptos. Nesses locais, muitos cantores encontraram emprego. Ao mesmo tempo, o teatro de revista ganhava força no Rio de Janeiro e foi nele que Jorge viu uma nova chance para sua carreira. A primeira peça da qual participou foi “Um Milhão de Mulheres,” se juntando a Virgínia Lane, Grande Otelo, Salomé Parísio, Eva Lanthos, Colé e Badú no elenco. A peça foi um sucesso de público e crítica, que destacou, entre outros aspectos, o desempenho de Jorge. Animado com o sucesso, o produtor Chianca de Garcia reaproveitou a maior parte do elenco em outra revista, “O Rei do Samba”. Esta produção, contudo, não alcançou o mesmo sucesso e a equipe chegou a levar um golpe em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (onde se hospedaram no “Hotel Majestic”, atual “Casa de Cultura Mario Quintana”, onde o empresário que os havia contratado alegou ter perdido todo o seu dinheiro e os deixou sem recursos para voltar ao Rio. Perambulando por casas noturnas da capital estadual, Jorge conheceu Lupicínio Rodrigues, que o apresentou a Moitinha, dono do “Cabaré Marabá”. O empresário aceitou contratar Jorge e seis vedetes e, assim, a equipe conseguiu levantar os fundos necessários para voltar para casa. Jorge seguiu cantando nas rádios “Tupi” e “Globo” e também participando de peças de Chianca, como “O Mundo em Cuecas” que não fez sucesso. Na época, Jorge recebeu um convite de Walter Pinto para cantar em sua peça “O Trem da Central”, que ele coproduziu com Freire Júnior e que trazia Oscarito, Violeta Ferraz, Lourdinha Bittencourt, Margot Louro, Paulo Celestino e Pedro Dias no elenco. Jorge lançou seu terceiro disco, pela “Star”, contendo "Meu Amor", de Dunga e "Fiquei Louco", de Erasmo Silva e Cyro de Souza. No ano seguinte, mais um disco pela “Star”, com duas músicas de festa junina, "São João", de Alcyr Pires Vermelho e "Noites de Junho" de Lamartine Babo. As duas músicas venderam bem. Além do teatro e dos discos, Jorge Goulart teve também uma oportunidade de se apresentar na boate “Vogue”, em Copacabana, e na chanchada “Carnaval no Fogo”. Jorge Goulart teve também a chance de gravar uma marcha de carnaval, "Balzaqueana", que foi segundo lugar, na categoria, no concurso oficial de músicas carnavalescas. Jorge participou de outras produções cinematográficas, como “Não é Nada Disso”, “Aviso aos Navegantes” e “Tudo Azul”. O sucesso de "Balzaquiana" lhe deu novo impulso. Jorge Goulart recebeu o titulo de "O Rei do Rádio" e lançou um disco com mais canções de festa junina, "Mané Fogueteiro", de João de Barro e "Noites de Junho" de Alberto Ribeiro e João de Barro). A convite do presidente Juscelino Kubitschek, acompanhado de Nora Ney, Paulo Moura e banda “Conjunto Farroupilha”, Dolores Duran e Maria Helena Raposo, Jorge organizou uma caravana artística com a finalidade de preparar a reaproximação com a União Soviética e a China. A turnê fez sucesso e resultou em seguidas viagens a esses locais nos dez anos seguintes. Lá, a delegação se juntou ao “Império Serrano”, à qual Jorge era ligado. Puxava seus sambas só com o megafone, dispensando quaisquer pagamentos em favor da mesma e contribuindo para a divulgação dos compositores do morro. Fez o mesmo na “Imperatriz Leopoldinense” e na “Unidos de Vila Isabel”. Durante o governo de João Goulart, conforme as tensões políticas se acirravam, Jorge se sentiu censurado antes de uma apresentação em São Carlos do Pinhal, no interior do estado de São Paulo. Um representante da paróquia local lhe solicitou que não cantasse "Jezebel", pois ela era "mulher do diabo" e cantar tal canção seria um ataque à religião e um ato pró-comunista. Jorge ignorou os apelos e na hora em que começou a cantar a peça em questão, a igreja acionou seus sinos para tentar abafar sua voz. Após o golpe militar no Brasil, a direita política assumiu o comando da “Rádio Nacional” e o cerco se fechou contra Jorge e outros artistas considerados "comunistas" pelos militares. Discos seus e de outros músicos foram destruídos e as oportunidades de shows e gravações rarearam. Jorge e Nora decidiram, então, se exilar e iniciaram uma série de apresentações na Europa, na África e na Ásia. Jorge Goulart descobriu um câncer na garganta e teve de extrair suas cordas vocais. Aprendeu a usar a voz esofagiana, mas não mais pôde cantar. Nora também perdeu a voz após sofrer um derrame. Jorge teve um romance com a cantora Emilinha Borba. Jorge conheceu no camarim do “Copacabana Palace Hotel”, a famosa cantora Nora Ney, que na época estava num momento conturbado em seu casamento com Cleido Maia, que era contra sua carreira de cantora de boate e tentava impedi-la de cantar inclusive por meio da violência física. Jorge e Nora conviveram juntos por cinqüenta e um anos, quando Nora morreu. Jorge teve uma filha. Jorge Goulart conheceu a enfermeira Antônia Lúcia, com quem viveu até sua morte. Durante muitos anos. Jorge Goulart atuou na política do “Partido Comunista Brasileiro” e no “Sindicato dos Artistas”. Jorge assistia a um filme no “Cine Vitória”, no Rio de Janeiro, que enaltecia a gestão de Carlos Lacerda como governador da Guanabara. Em dado momento, um estudante chamou o governador de fascista. O chefe da polícia da Guanabara, Newton Marques Cruz, respondeu chamando-o de comunista e ameaçando prendê-lo. Jorge interveio em favor do estudante e Newton mandou policiais levarem-no. Um delegado que reconheceu Jorge conversou com o chefe da polícia e a ocorrência não foi para frente. "Celeiro de Ases", marcha composta por Nélson Silva e que seria escolhida para ser o hino oficial do Internacional de Porto Alegre. A gravação original feita pelo cantor carioca Jorge Goulart, com acompanhamento da orquestra e coro do maestro Ruy Silva. Jorge Goulart morreu vítima de uma parada cardiorrespiratória.