João Batista Nogueira Junior
(Rio de Janeiro/RJ, 12 de novembro de 1941)
(Rio de Janeiro/RJ, 05 de junho de 2000).
João Nogueira foi um cantor e compositor brasileiro. Filho do advogado e músico João Batista Nogueira e irmão da também compositora, Gisa Nogueira, cedo tomou contato com o mundo musical. Logo, aprendeu a tocar violão e a compor em parceria com a irmã. Desde o início de sua carreira ficou conhecido pelo suingue característico de seus sambas. João é pai do também cantor e compositor Diogo Nogueira. João Nogueira começou a compor aos quinze anos, fazendo sambas para o bloco carnavalesco “Labareda”, do Méier, através do qual conheceu o músico Moacyr Silva, dirigente da gravadora “Copacabana”, que o ajudou a gravar o samba “Espere, Ó Nega”. Mas ele apareceu na cena artística nacional quando emplacou o sucesso “Das 200 Pra Lá”, samba que defendia a política de expansão de nossa fronteira marítima ao longo de duzentas milhas da plataforma continental. O samba assumiu as primeiras posições das paradas na voz de Eliana Pittman e mereceu citação em reportagem da revista americana “Time” pelo seu tom nacionalista afirmativo. Funcionário da “Caixa Econômica”, João se viu às voltas com certo patrulhamento, já que a bandeira das duzentas milhas havia sido levantada pelo governo militar. “Pensaram que eu tinha virado Dom e Ravel”, brincou ele mais tarde. Seu primeiro disco foi um compacto simples com “Alô Madureira” e “Mulher Valente”. Elizeth Cardoso gravou seu samba “Corrente de Aço”, no disco “Falou”. Em um dos seus LPs, João Nogueira reservou uma faixa para Noel Rosa, gravando “Gago Apaixonado”, noutra faixa havia “Não Tem Tradução”, reverenciando mais uma vez o poeta da Vila, um dos três esteios de sua inspiração, ao lado de Geraldo Pereira e Wilson Batista, dos quais recebeu as influências que explicavam seu estilo de compor e cantar o samba e aos quais dedicaria um LP inteiro “Wilson, Geraldo e Noel”. O disco, contudo, seria lembrado por outros sucessos, como “Nó na Madeira” e “Mineira” uma homenagem a Clara Nunes, parceria com Paulo César Pinheiro, marido da cantora. O disco trazia ainda “Samba da Bandola”, “Chorando Pelos Dedos” e “Pra Fugir Nunca Mais” e “Seu Caminho Se Abre”. Quando Diogo Nogueira, seu filho, canta “Espelho”, faixa título de outro disco de João, os jovens que formam sua legião de fãs imaginam que ele está falando do pai, nos versos que dizem “Um dia chutei mal e machuquei o dedo/E sem ter mais o velho pra espantar o medo/Foi mais uma vontade que ficou pra trás”. Afinal, Diogo foi jogador de futebol profissional, esporte que abandonou depois de sofrer uma séria contusão. Na verdade a letra da música é autobiográfica, sim, mas de João, o pai, se referindo ao avô de Diogo. O flamenguista João Nogueira foi também um boleiro frustrado por uma contusão. Nos quatro primeiros discos que João lançou estavam dadas as linhas mestras do que seria sua carreira. E está contido o melhor do compositor, que um dia entrou no “Portelão” cantando “Hoje eu estou cheio de alegria/ E sou até capaz de me embriagar/Uns amigos bambas neste dia/ Me convidaram a participar/De uma escola de samba que é todo meu dengo/ De um terreiro de bambas que é todo meu mal/ Vou me livrar da tristeza/ E sambar na beleza do seu Carnaval”, samba de apresentação à ala dos compositores da “Portela”. O namoro duraria até quando João abandonou a escola, descontente com os rumos que o presidente Carlinhos Maracanã lhe impôs e se juntou a outros sambistas, herdeiros do velho Natal, para fundar a “Tradição” escola para a qual compôs em parceria com Paulo César Pinheiro os cinco primeiros sambas-enredo. Diogo foi a reconciliação com a “Portela” onde foi quatro vezes vencedor do samba-enredo. João Nogueira fundou o “Clube do Samba” com Alcione, Martinho da Vila e Beth Carvalho, entidade à qual dedicou o título do disco, que trouxe os sucessos, “Súplica” e “Canto do Trabalhador”. O clube, que no início funcionava em sua casa e que mais tarde lançou um bloco carnavalesco, arrastando foliões saudosos dos velhos carnavais, funcionou em vários endereços. Pelo seu palco passaram os grandes nomes do samba e compositores das escolas cariocas. Uma das músicas mais cantadas de João, uma espécie de hino dos compositores, foi o sucesso do disco “Boca do Povo”, a música “Poder da Criação”. João Nogueira seguiria lançando discos de qualidade. São dezoito álbuns solo e participação em discos coletivos gravando com Clara Nunes, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Nana Caymmi e Chico Buarque. João Nogueira participou do disco “Esquina do Samba” com Dona Ivone Lara, Walter Alfaiate, Beth Carvalho, Moacyr Luz, Luiz Carlos da Vila e outros e do disco da “Velha Guarda da Portela”. Sua participação no programa “Ensaio” da TV Cultura de São Paulo foi lançada em DVD em sua homenagem, nove anos após sua morte. João Nogueira teve um relacionamento com a Srta. De Mello Azedias com quem teve uma filha, Iara Valéria. João Nogueira era casado com Ângela Maria Mendonça Nogueira com quem teve três filhos, Tatiana, Clarisse e o cantor Diogo Nogueira. João vinha sofrendo de problemas circulatórios que lhe haviam causado uma isquemia cerebral. João Nogueira esteve internado em estado grave por um bom tempo, mas se recuperou. Mas, sob observação médica levava uma vida mais regrada e estava confiante, com projetos a realizar. João Nogueira morreu em casa vitimado por um infarto fulminante.