Nélson Falcão Rodrigues
(Recife/PE, 23 de agosto de 1912)
(Rio de Janeiro/RJ, 21 de dezembro de 1980).
Nélson Rodrigues foi um escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro. É considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Nascido na capital de Pernambuco, o quinto de quatorze irmãos, Nélson Rodrigues se mudou para o Rio de Janeiro ainda criança, onde viveria por toda sua vida. Seu pai, o ex-deputado federal e jornalista Mário Rodrigues, perseguido politicamente, resolveu se estabelecer na então capital federal se empregando no jornal “Correio da Manhã” de propriedade de Edmundo Bittencourt. Segundo o próprio Nélson em suas “Memórias”, seu grande laboratório e inspiração foi a infância vivida na Zona Norte da cidade. Dos anos passados numa casa simples, no bairro de Aldeia Campista, saíram para suas crônicas e peças teatrais as situações provocadas pela moral vigente na classe média dos primeiros anos do século XX e suas tensões morais e materiais. Sua infância foi marcada por este clima e pela personalidade do garoto Nélson. Retraído, era um leitor compulsivo de livros românticos do século XIX. Nesta época ocorreu também para Nélson a descoberta do futebol, uma paixão que conservaria por toda a vida e que lhe marcaria o estilo literário. Mário Rodrigues fundou o jornal “A Manhã”, após romper com Edmundo Bittencourt. Seria no jornal do pai que Nélson começaria sua carreira jornalística, na seção de polícia, com apenas treze anos de idade. Os relatos de crimes passionais e pactos de morte entre casais apaixonados incendiavam a imaginação do adolescente romântico que utilizaria muitas das histórias reais que cobria em suas crônicas futuras. Neste período, a família Rodrigues conseguiria atingir uma situação financeira confortável, se mudando para o bairro de Copacabana. Apesar da bonança, Mário Rodrigues perderia o controle acionário de “A Manhã” para o sócio. Mas, com o providencial auxílio financeiro do vice-presidente Fernando de Melo Viana, Mário fundou o diário “Crítica”. Como cronista esportivo, Nélson escreveu textos antológicos sobre o “Fluminense Football Club”, clube para o qual torcia fervorosamente. A maioria dos textos eram publicados no “Jornal dos Sports”. Junto com seu irmão, o jornalista Mário Filho, Nélson foi fundamental para que os “Fla-Flu” tivessem conquistado o prestígio que conquistaram e se tornassem grandes clássicos do futebol brasileiro. Nélson Rodrigues criou e evocava personagens fictícios como “Gravatinha e Sobrenatural de Almeida” para elaborar textos a respeito dos acontecimentos esportivos relacionados ao clube do coração. Nélson seguiu os seus irmãos Mílton, Mário Filho e Roberto integrando a redação do novo jornal. Ali continuou a escrever na página de polícia, enquanto Mário Filho cuidava dos esportes e Roberto, um talentoso desenhista, fazia as ilustrações. “Crítica” era um sucesso de vendas, misturando uma cobertura política apaixonada com o relato sensacionalista de crimes. Mas o jornal existiria por pouco tempo. A primeira página de “Crítica” trouxe, certa vez, o relato da separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Ilustrada por Roberto e assinada pelo repórter Orestes Barbosa, a matéria provocou uma tragédia. Sylvia, a esposa que se desquitara do marido e cujo nome fora exposto na reportagem invadiu a redação de “Crítica” e atirou em Roberto com uma arma comprada naquele dia. Nélson testemunhou o crime e a agonia do irmão, que morreu dias depois. Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, faleceu poucos meses depois. Sylvia, apoiada por boa parte da imprensa concorrente de “Crítica”, foi absolvida do crime. Finalmente, durante a “Revolução de 30”, a gráfica e a redação de “Crítica” são empastelados e o jornal deixa de existir. Sem seu chefe e sem fonte de sustento, a família Rodrigues mergulha em decadência financeira. Foram anos de fome e dificuldades para todos. Pouco afinados com o novo regime, os Rodrigues demorariam anos para se recuperar dos prejuízos causados pela tuberculose. Ajudado por Mário Filho, amigo de Roberto Marinho, Nélson passa a trabalhar no jornal “O Globo” sem salário. Depois Nélson seria efetivado como repórter no jornal, mas logo, Nélson se descobriu tuberculoso. Para se tratar, saiu do Rio de Janeiro e passou longas temporadas em um sanatório na cidade de Campos do Jordão, no interior do Estado de São Paulo. Seu tratamento é custeado por Marinho, que conquistou a gratidão de Nélson pelo resto de sua vida. Recuperado, Nélson volta ao Rio e assume a seção cultural de “O Globo”, fazendo a crítica de ópera. No “O Globo”, foi editor do suplemento “O Globo Juvenil”. Além de editar, Nélson roteirizou algumas histórias em quadrinhos para o suplemento, dentre elas, uma versão de “O Fantasma de Canterville” de Oscar Wilde, com desenhos de Alceu Penna. Nélson se casa com Elza Bretanha, sua colega de redação. Nélson se dividiu entre o emprego em “O Globo” e a elaboração de peças teatrais. Nélson escreve “A Mulher Sem Pecado”, que estreou sem sucesso. Pouco tempo depois assinou a revolucionária “Vestido de Noiva”, peça dirigida por Ziembinski e que estreou no “Teatro Municipal do Rio de Janeiro” com estrondoso sucesso. O teatrólogo Nélson Rodrigues seria o criador de uma sintaxe toda particular e inédita nos palcos brasileiros. Suas personagens trouxeram para a ribalta expressões tipicamente cariocas e gírias da época, como "batata!" e "você é cacete, mesmo!". “Vestido de Noiva” é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro. Nélson Rodrigues abandonou “O Globo” e passou a trabalhar nos “Diários Associados”. Em “O Jornal” um dos veículos de propriedade de Assis Chateaurbriand, começou a escrever seu primeiro folhetim, “Meu Destino é Pecar”, assinado com o pseudônimo (Suzana Flag). O sucesso do folhetim alavancou as vendas de “O Jornal” e estimulou Nélson a escrever sua terceira peça, “Álbum de Família”. O texto da peça foi submetido à “Censura Federal” e proibido. “Álbum de Família” só seria liberada quase vinte anos depois. Dois anos depois da proibição de “Álbum de Família”, estreou “Anjo Negro”, peça que possibilitou a Nélson adquirir uma casa no bairro do Andaraí. Depois Nélson lançou “Dorotéia”. Nélson passou a trabalhar no jornal “Última Hora” de Samuel Wainer. No jornal, Nélson começou a escrever os contos de “A Vida Como Ela É” seu maior sucesso jornalístico. Nélson passou a trabalhar na recém fundada TV Globo, participando da bancada da “Grande Resenha Esportiva Facit”, a primeira "mesa-redonda" sobre futebol da televisão brasileira e a publicar suas “Memórias” no jornal “Correio da Manhã” onde seu pai havia trabalhado cinquenta anos antes. Consagrado como jornalista e teatrólogo, a saúde de Nélson começa a decair, por causa de problemas gastroenterológicos e cardíacos de que era portador. O período coincide com os anos do regime militar, que Nélson sempre apoiou. Como cronista do jornal “O Globo”, Nélson atacava diversos oposicionistas do regime: chamava dom Hélder Câmara de falsário, ex-católico e arcebispo vermelho. Nélson Rodrigues teve diversas de suas obras ou adaptadas ou como fonte de inspiração para a TV e para o cinema. Na TV, entre outras obras, são de sua autoria as novelas “Pouco Amor Não É Amor”, “A Morta Sem Espelho”, “Sonho de Amor”, “O Desconhecido” e “O Homem Proibido”, escrita por Teixeira Filho (baseada em sua obra). Na série “TV de Vanguarda”, o episódio “A Mulher Sem Pecado” é roteiro de Nélson, assim como as minisséries “Meu Destino é Pecar” (escrita por Euclydes Marinho), “Engraçadinha: Seus Amores e Seus Pecados” (escrita por Leopoldo Serran), “A Vida Como Ela É” (escrita por Euclydes Marinho) e “Nélson: Por Ele Mesmo” (escrita por Geraldo Carneiro). Para o cinema as obras adaptadas foram os filmes “Somos Dois”, “Meu Destino é Pecar”, “Mulheres e Milhões”, “Boca de Ouro” (duas versões), “Meu Nome é Pelé”, “Bonitinha, Mas Ordinária”, “Asfalto Selvagem”, “A Falecida”, “O Beijo”, “Engraçadinha Depois dos Trinta”, “Toda Nudez Será Castigada”, “O Casamento”, “A Dama do Lotação”, “Os Sete Gatinhos”, “O Beijo no Asfalto”, “Bonitinha, Mas Ordinária ou Otto Lara Rezende” (duas versões), “Álbum de Família”, “Engraçadinha”, “Perdoa-me Por me Traíres”, “Traição”, “Gêmeas”, “Vestido de Noiva” e “A Serpente”. Nélson Rodrigues foi casado duas vezes com a jornalista Elza Bretanha Rodrigues com quem teve dois filhos, o cineasta Joffre Rodrigues (falecido em 2010) e Nélson Rodrigues Filho e com Yolanda Camejo dos Santos (com quem teve três filhos, Sônia Maria, Maria Lúcia e Paulo César. Nélson Rodrigues teve um romance com Lúcia Cruz Lima com quem teve uma filha, Daniela. Nélson Rodrigues morreu de complicações cardíacas e respiratórias. No fim da tarde daquele mesmo dia ele faria treze pontos na “Loteria Esportiva”, num "bolão" com seu irmão Augusto e alguns amigos de "O Globo".