Vicentina de Paula Oliveira
(Rio Claro/SP, 05 de maio de 1917)
(Rio de Janeiro/RJ, 30 de agosto de 1972).
Dalva de Oliveira foi uma consagrada cantora e compositora, atriz e dubladora brasileira, de ascendência portuguesa, sendo considerada uma das mais importantes cantoras do Brasil e dona de uma voz poderosa, marcando época como intérprete. Nascida em uma família humilde, era filha de um carpinteiro mulato chamado Mário de Paula Oliveira, conhecido como Mário Carioca e da portuguesa Alice do Espírito Santo Oliveira. Vicentina de Paula Oliveira se mudou com a família para o Rio de Janeiro, em busca de uma vida melhor. Dalva de Oliveira frequentava o “Cine Pátria”, onde conheceu seu primeiro namorado, Herivelto Martins, que formava ao lado de Francisco Sena o dueto “Preto e Branco”. Nascia assim o “Trio de Ouro”. Dalva e Herivelto iniciaram um namoro e com um ano de namoro, Dalva protagonizou um escândalo familiar, pois saiu de casa solteira, para viver com o namorado. Os dois alugaram uma casa e iniciaram uma convivência conjugal. Herivelto ainda era casado no civil com sua ex-esposa e a união deles só pôde ser regularizada quando saiu o desquite dele. O matrimônio foi realizado somente no cartório e comemorado em um ritual de umbanda, na praia, já que esta era a religião de Herivelto, embora Dalva fosse católica. A união gerou dois filhos, os cantores Peri de Oliveira Martins, o Pery Ribeiro e Ubiratan Oliveira Martins. A união durou até quando as constantes brigas, traições, crises violentas de ciúmes e humilhações por parte de Herivelto deram fim ao casamento. Matérias mentirosas que difamavam a moral de Dalva, alegando que ela traía o marido e participava de festas imorais, foram publicadas por Herivelto, com a ajuda do jornalista David Nasser no "Diário da Noite". Por ser cantora, sempre era apontada como detentora de moral duvidosa e sua profissão pesou nas acusações mentirosas. Estes escândalos forjados fizeram com que o conselho tutelar mandasse Peri e Ubiratan para um internato, alegando que a mãe não possuía uma boa conduta moral para criar os filhos, o que a fez entrar em desespero e depressão, aumentando as brigas entre o ex-casal. Os meninos só podiam visitar os pais em datas festivas e fins de semana e só poderiam sair de lá definitivamente com dezoito anos. Dalva lutou muito pela guarda dos filhos e sofreu bastante por isso. Dalva e Herivelto oficializaram a separação, se desquitando, já que o divórcio ainda não existia no Brasil. Depois de se consagrar mais uma vez na música mundial e eleita "Rainha do Rádio", Dalva de Oliveira resolve excursionar pela Argentina, para conhecer o país e cantar em Buenos Aires. Nessa ocasião conhece Tito Climent, que se torna primeiro seu amigo, depois seu empresário e mais tarde, seu segundo marido, quando Dalva se mudou para Buenos Aires, indo morar na casa de Tito, antes da união oficial. Dalva não queria mais ter filhos por conta de sua carreira, que tomava muito seu tempo, mas sempre quis ter uma menina. Por isto, adotou uma criança em um orfanato de Buenos Aires, a quem batizou de Dalva Lúcia Oliveira Climent. Dalva e Tito, após dois anos morando juntos se casaram oficialmente em um cartório na Argentina e viveram juntos por alguns anos. No começo, a união era feliz e estável e criavam a filha com muito amor e dedicação. Após mais de quatro anos de casamento, o casal passou a viver brigando, também por conta da carreira de Dalva, que vivia viajando e de seus filhos, a quem constantemente visitava no Brasil, o que desagradava o marido, que queria que ela deixasse para trás sua carreira e seu passado no Brasil, para viver exclusivamente para ele e para a criação da filha, mas Dalva jamais aceitou esta imposição. Dalva também era uma mulher simples e querida por todos, fazendo amizade com facilidade, mas Tito queria uma mulher fina e cheia de requintes, sempre pronta para atender a todos em cima do salto. Essa grande diferença de temperamentos, que culminou em muitas brigas e humilhações, pôs fim à união do casal. Dalva se mudou para o Brasil, mais especificamente para o Rio, com a filha, de volta para sua casa, mas no mesmo ano, Tito entrou na justiça pedindo a guarda da menina e Dalva voltou para Buenos Aires, onde entrou em processo contra o marido. Para manter o processo até o fim, Dalva deixou sua carreira no Brasil e passou a morar com a filha em Buenos Aires até a decretação da sentença do juiz. Dalva e Tito passam a brigar muito pela guarda da criança, com brigas verbais e mútuas acusações, mas Tito acabou usando as mesmas provas que Herivelto utilizou, as notícias mentirosas em jornais a respeito da moral duvidosa da cantora. Muito triste e infeliz, Dalva perdeu a guarda de sua menina e voltou sozinha para o Brasil, dando entrada no pedido de divórcio, já em vigor no Brasil. Ela retomou sua carreira, fazendo mais sucesso que nunca. Separados há alguns anos, a separação oficial finalmente é concedida pelo juiz, já que casamento entre estrangeiros, na época, demorava para protocolar o divórcio. Dalva de Oliveira volta a Buenos Aires para assinar os papéis e se divorcia de Tito, voltando logo em seguida para o Brasil. Seus pequenos momentos de felicidade ocorriam quando seus três filhos a visitavam nas férias escolares de janeiro. Iam visitar a mãe no Rio de Janeiro e passavam um mês com Dalva em sua mansão. A cantora cancelava todos os shows do mês para ficar com os filhos. Seu desejo era poder viver com os três, sempre juntos, um sonho que não pôde realizar. Os anos se passaram. Dalva vivia sozinha em sua mansão e já havia se acostumado com a solidão. Para compensar a tristeza, passou a beber e fumar compulsivamente. Neste período, teve alguns namorados, mas eram relacionamentos sem compromisso, que duravam geralmente uma noite ou poucos meses, pois não queria se apegar a ninguém e não pretendia se casar novamente, apenas viver a vida com homens que a atraíssem e nenhum deles havia despertado algo além de paixão momentânea. Também não tinha tempo de se dedicar a um relacionamento pois viajava o mundo em turnês musicais. Estava concentrada em sua carreira e fazendo mais sucesso ainda, quando, sem estar a procura conhece Manuel Nuno Carpinteiro, um homem vinte anos mais jovem, por quem se apaixonou perdidamente e com quem redescobriu o amor. Com poucos meses de namoro, ele foi morar na sua casa. Com alguns anos juntos, se casaram oficialmente e Nuno foi seu último marido. Ao assumir o namoro, foi alvo de muitos preconceitos, pela grande diferença de idade, mas Dalva não ouviu os outros e escutou a voz de seu coração, seguindo os passos da felicidade. Dalva e Manuel, que na época ainda era seu namorado a pouco tempo, sofreram um grave acidente. Ele dirigia o veículo, onde se acredita que havia ocorrido uma discussão por ciúmes e haviam bebido muito, quando Manuel perdeu o controle, atropelando e matando quatro pessoas. Dalva ficou em coma durante alguns dias, teve afundamentamento no maxilar esquerdo, bacia fraturada e ficou com uma marca na bochecha que apesar de fazer várias cirurgias, não foi possível recuperar suas feições anteriores. Manuel, pensando que Dalva havia morrido, disse que era Dalva quem dirigia, mas ao saber que ela estava bem, acabou confessando que estava realmente dirigindo o carro. Dalva se desesperou ao saber que, no acidente, quatro pessoas tinham morrido, tendo que arcar com as indenizações aos familiares das vítimas, assim acumulando dívidas que foram dizimando seu patrimônio pouco a pouco. De voz afinada e bela, Dalva foi considerada a “Rainha da Voz” ou o rouxinol brasileiro, sua extensão vocal ia do contralto ao soprano. Foi César Ladeira, em seu programa na “Rádio Mayrink Veiga”, que pela primeira vez anunciou o "Trio de Ouro". Dalva deixou o trio, quando excursionavam pela Venezuela com a companhia de Dercy Gonçalves. Na primeira versão do filme “Branca de Neve e os Sete Anões”, produzida pelos estúdios “Disney”, Dalva de Oliveira dublou os diálogos da personagem (Branca de Neve). As canções foram interpretadas pela dubladora Maria Clara Tati Jacome. Dalva realizou mais de quatrocentas gravações e sua voz está em vários coros de discos de Carmen Miranda, Orlando Silva, Francisco Alves, Mário Reis, entre outros. Os principais sucessos de Dalva de Oliveira foram ”Ave Maria”, “Bandeira Branca”, ”Brasil”, “Errei, Sim”, ”Estrela do Mar”, “Máscara Negra”, “Palhaço”, “Tudo Acabado”, “João de Barro”, ”Valsa da ‘Despedida”, ”Zum-Zum”, ”Kalu” e vários outros. Três dias antes de morrer, Dalva pressentiu o fim e, pela primeira vez, em sua longa agonia de quase três meses, lutando pela vida, falou da morte. Ela tinha um recado para sua melhor amiga, a cantora Dora Lopes, que a acompanhou ao hospital: "Quero ser vestida e maquiada, como o povo se acostumou a me ver. Todos vão parar para me ver passando!". Dalva de Oliveira morreu na casa de saúde, na presença dos filhos Pery Ribeiro, Bily e Gigi, vitimada por uma hemorragia interna causada por um câncer no esôfago.