Cauby Peixoto Barros
(Niterói/RJ, 10 fevereiro de 1931)
(São Paulo/SP, 15 de maio de 2016).
Cauby Peixoto foi um cantor, ator e apresentador brasileiro, considerado um dos maiores e mais versáteis intérpretes da música brasileira. Filho de Elizário Peixoto e de Alice de Carvalho Peixoto. Cauby Peixoto estudou em um colégio de padres salesianos em Niterói, onde chegou a cantar no coro da escola e também no coro da igreja que frequentava. Cauby Peixoto trabalhou em um comércio até resolver participar de programas de calouros no rádio no Rio de Janeiro. Sua voz era caracterizada pelo timbre grave e aveludado, mas principalmente pelo estilo próprio de cantar e interpretar, além da extravagância nas roupas e penteados excêntricos. Proveniente de uma família de músicos, o pai (conhecido como Cadete) tocava violão e a mãe bandolim, os irmãos eram instrumentistas, as irmãs cantoras. Sobrinho do músico Nonô, pianista que popularizou o samba naquele instrumento, Cauby era primo do cantor Ciro Monteiro. Nascido em Santa Rosa, bairro de Niterói, então capital do Estado do Rio de Janeiro, Cauby era o caçula de seis irmãos (Aracy, Moacyr, Andyara, Aráken e Iracema). A família Peixoto passou por dificuldades depois da morte de Elizário Peixoto (pai de Cauby). Eles foram ajudados pela cunhada de Alice, conhecida como Corina, que os auxiliou a mudarem de Fonseca. Para os seis, nenhum trauma. Cauby, com o tempo foi fazendo amizades em seu novo bairro, juntamente com Aráken e Andyara. Durante sua infância, seu hobby era ir à praia aperfeiçoar seus dotes de nadador. Já pré-adolescentes, aprontavam muito, tanto que apanhavam e tinham castigos rigorosos. A casa onde moravam inicialmente em São Francisco Xavier era moderna e de alto custo na época. Só foi possível adquiri-la, com a ajuda de Dona Corina, que nunca faltou com sua atenção nas horas mais difíceis, desde de que Eliziário morreu. Era uma casa grande com varanda, quintal e três quartos. Cauby mesmo morando em São Francisco Xavier não deixava de ir à Fonseca, rever seus amigos e sua namorada, Josélia, com quem gostava muito de dançar. No “Líder Esporte Clube” de Niterói, Cauby chegou a ganhar prêmios por dançar e também gostava de ir a Santa Rosa em época de carnaval, para brincar no “Ringue” e “Barreto”, os points animados de então. Com a devida ajuda de Dona Corina, Cauby se fantasiava com roupas cuidadosamente confeccionadas por ela. Desde pequeno, Cauby já gostava de roupas diferenciadas. Tempos depois, Alice começou a se relacionar com um homem chamado Anacleto, que se aproximou lentamente da família Peixoto. Cauby, na adolescência foi considerado diferenciado, pois era vaidoso e sedutor (mal sabia que seria considerado o homem mais bonito do Brasil, eleito por uma revista americana). Em uma família de músicos, Cauby passou a ter seus primeiros contatos, por meio de discos de seu irmão, Moacyr, que lhe mostrava canções de Sílvio Caldas e Orlando Silva. Ouvindo um dos discos de seu irmão, escutou a interpretação de Orlando Silva (que se tornou seu ídolo), e se apaixonou pela canção "Rosa" (de Pixinguinha e Otávio de Souza). O rádio já era veículo de massa e todos gostavam de ouvi-lo. Além de tudo, sua mãe e suas irmãs adoravam cantar. Seguindo o exemplo dos irmãos mais velhos, Cauby tratou de ajudar nas finanças de casa, pois já tinha quinze anos. Cauby passou então estudar à noite e a trabalhar durante o dia no comércio. Mesmo sabendo que a música era sua meta, ainda muito jovem nem sonhava com a reviravolta que estava para acontecer em sua vida. Por esse tempo, Cauby foi trabalhar como vendedor em uma sapataria no centro da cidade, na Gonçalves Dias, quase em frente á “Confeitaria Colombo”. Mas, na flor de sua libido, se encantou por uma mulher e se embaralhou ao oferecer-lhe um monte de pares de sapatos. A sujeita se queixou ao seu patrão, um italiano de poucas palavras. Resultado: foi demitido. A demissão não lhe rendeu maiores traumas. Cauby se tornou mais responsável e foi contratado pela perfumaria “Hermany” na mesma rua da sapataria. Na perfumaria ganhou títulos de melhor funcionário, pois estava encarando o comércio muito bem, mas às vésperas de se tornar gerente, largou o emprego por causa da música. Antes de pedir suas contas, Cauby foi até a “Rádio Tupi”. Cauby apresentou sua carteira de trabalho e foi fazer uns testes para atuar num curioso programa da "Cacique no Ar". Patrocinado pelo “SESC” do Rio e promovido pela pianista Babi de Oliveira, era o programa "Hora do Comerciário” e era perfeito para ele, porque ia ao ar aos sábados, das 18 h às 19 h, horário de sua folga. Cauby se esmerava ao máximo para fazer tudo direito e deu certo. Logo nas primeiras apresentações, o novato teve os louvores da dirigente do programa. Cauby já se destacava dos demais. Depois da "Hora do Comerciário", Cauby foi aos poucos tentando penetrar em outros espaços. E, como sempre, pedindo para dar "canjas" em boates como a “Vogue” e procurando até mesmo em teatros. O ator e diretor Sérgio Britto lembrava sempre e bem da primeira vez que viu o cantor. Foi no palco do “Theatro Rival”, na Cinelândia, nos intervalos, entre uma mudança de cenário e outra, do espetáculo do grupo "A Brasiliana", criado pelo polonês Mieci Askanazy. Esse grupo fazia parte do cunho folclórico, explorando a arte negra. Para Sérgio, o mais espetacular em Cauby sempre foi sua entrada no palco, além do fato de cantar bem. Cauby foi prosperando. Felizmente, no momento de honrar seus compromissos com as forças armadas escapou de servir o "Exército". Motivo? Magro demais. Animado com o sucesso da “Rádio Tupi” e no “Theatro Rival” sentiu que havia nascido para cantar. Como a essa altura, Moacyr e Andyara já estavam em São Paulo atuando na noite paulistana, seu lugar deveria ser lá também. Com a ajuda de seus irmãos, Cauby teve a oportunidade de realizar sua primeira gravação. Foi em meio aos festejos carnavalescos numa época profícua para o meio fonográfico. Os executivos da etiqueta “Carnaval” o convocaram para que gravasse seu primeiro 78 rpm. Cauby gravou o primeiro álbum chamado de "Saia Branca". Na época, por não ser muito famoso, teve pouca repercussão. Por intermédio de seu irmão Moacyr, Cauby conheceu Di Veras, empresário famoso por suas estratégias de marketing. Ele levou Cauby para São Paulo, especificamente à “Rádio Nacional”. Di Veras começou a trabalhar na estética de Cauby, exigindo que ele se vestisse bem, pois por ser de família humilde não era acostumado, mas para cantores da época, era uma obrigação ser elegante. As mudanças no seu visual iam se tornar uma constante. Cauby não deixou de gravar discos durante as mudanças e lançou seu primeiro sucesso no Brasil, o “Blue Gardênia”, em uma versão que trouxe dos Estados Unidos em português. Na época, era um sucesso na voz de Nat King Cole. Di Veras trabalhou com Cauby até quando ele atingiu o quinto lugar nos álbuns mais tocados nos EUA. Cauby foi convidado para uma excursão aos EUA pelo cardeal Francis Spellman. Durante a viagem no navio, Cauby cantou músicas religiosas. Já nos EUA, com nome artístico de Ron Coby gravou alguns LP's com a orquestra de Paul Weston, cantando em inglês. Durante três anos, Cauby ficou indo e voltando dos Estados Unidos. Cauby Peixoto apareceu no filme “Com Água na Boca” cantando seu grande sucesso, “Conceição”. Na época, Cauby foi citado nas revistas “Time” e “Life” como o Elvis Presley brasileiro. Cauby foi o primeiro cantor brasileiro a gravar uma canção de rock em português, denominada “Rock And Roll em Copacabana” que foi composta por Miguel Gustavo, também autor da marchinha "Pra Frente, Brasil". Cauby Peixoto foi acompanhado pelo grupo “The Snakes”, formado por Arlênio, Erasmo Carlos, Edson Trindade e José Roberto (o "China"), no filme "Minha Sogra é da Policia". O grupo o acompanhou na canção “That's Rock”, composta por Carlos Imperial. Cauby ainda gravaria a canção "Enrolando o Rock", da banda Betinho & Seu Conjunto. Após essa rápida passagem pelo gênero, Cauby Peixoto não voltaria mais a gravar canções de rock, mas essa escolha não interferiu em sua carreira. Cauby cantou com seu ídolo de infância, Nat King Cole, ao qual dedicou um disco. Cauby Peixoto se apresentou com frequência em programas de televisão no Rio de Janeiro e pequenas temporadas em casas noturnas do Rio e de São Paulo. Em comemoração aos vinte e cinco anos de carreira, Cauby Peixoto lançou pela “Som Livre” o álbum “Cauby, Cauby”, com composições escritas especialmente para ele por Caetano Veloso (“Cauby, Cauby”), Chico Buarque (“Bastidores”), Tom Jobim (“Oficina”), Roberto Carlos e Erasmo Carlos (“Brigas de Amor”) e outros. “Bastidores”, particularmente, se converteu em um dos maiores sucessos do repertório do cantor. Cauby Peixoto se apresentou nos espetáculos “Bastidores” na “Funarte” no Rio de Janeiro e “Cauby, Cauby, Os Bons Tempos Voltaram” na boate “Flag” em São Paulo. Cauby Peixoto teve uma temporada no “150 Night Club” em São Paulo, com os irmãos Moacyr no piano e Araken no pistão e lançou o LP “Ângela e Cauby,” o primeiro encontro dos dois cantores em disco, com sucessos como “Começaria Tudo Outra Vez” de Gonzaguinha, “Contigo Aprendi” de Armando Manzanero, “Recuerdos de Ipacaray“ de Z. de Mirkin e Demétrio Ortiz e a valsa “Boa-Noite, Amor” de José Maria de Abreu e Francisco Matoso. Cauby Peixoto participou com a banda Tokyo - do cantor Supla - num rock-bolero chamado "Romântica", composto pelos integrantes do grupo paulista. Os trinta e cinco anos de carreira de Cauby Peixoto foram comemorados no bar e restaurante “A Baiuca” em São Paulo, ao lado dos irmãos Moacyr, Arakén, Yracema e Andyara (vozes). No mesmo ano, a “RGE” relançou o LP “Quando os Peixotos se Encontram". Cauby Peixoto foi o grande homenageado, ao lado de Ângela Maria, no “Prêmio Sharp”. Foi lançada pela “Columbia” uma caixa com dois CDs abrangendo gravações com sucessos como “Conceição”. Ao lado de Roberto Carlos, Cauby foi o artista que mais fez parceria musical no Brasil. Cauby Peixoto teve uma carreira muito eclética, talvez maior do que a de qualquer outro, gravando músicas de vários estilos, tais como samba, bossa-nova, boemia, sertanejo, jazz, rock, pop, soul, tango, bolero, jovem guarda, seresta e música romântica. Cauby Peixoto foi o primeiro cantor brasileiro a gravar uma música do célebre maestro Tom Jobim, "Foi a Noite" de quem também gravou o clássico "Samba do Avião", cuja gravação é tida como a primeira da “Bossa Nova”. Pelo seu estilo espalhafatoso, cheio de brilhos e paetês, Cauby é considerado o Liberace (pianista e show-man americano) do Brasil. Também já foi comparado à Michael Jackson e considerado pela revista estadunidense "Time", o Elvis Presley brasileiro. Cauby Peixoto foi o vencedor do “Grammy Latino” na categoria "Melhor Álbum de Música Romântica" com o CD "Eternamente Cauby Peixoto - 55 Anos de Carreira" lançado pela gravadora “Atração”. Na ocasião dos seus oitenta anos de idade e sessenta anos de carreira, a organização do “Grammy Latino” decidiu que Cauby Peixoto seria homenageado com o prêmio “Latin Recording Academy's President Merit Award”. Cauby Peixoto foi ovacionado pelo público presente no “Teatro Paulo Goulart” em São Paulo. Cauby foi o primeiro artista a receber esta homenagem do “Grammy Latino”. Quando foi até o microfone para agradecer, Cauby Peixoto soltou a voz: “cantei, cantei, jamais cantei tão lindo assim”, trecho de “Bastidores”. Ele justificou assim: “não sou de falar, por isso cantei”. O maestro espanhol Luis Cobos, presidente da curadoria do evento, foi quem entregou o prêmio, com direito a apresentação da cantora Elba Ramalho. O maestro disse: "senhoras e senhores, estamos diante de uma das poucas personalidades do mundo para nos pressionar a fazer o melhor e a fazer mais bonito sempre". Pouco mais de dois meses após o seu falecimento, Cauby foi o vencedor do “Prêmio da Música Brasileira”, na categoria "Melhor Álbum em Língua Estrangeira", pelo CD "Cauby Sings Nat King Cole. Cauby se apresentou durante os últimos quinze anos de sua vida, nas noites de segunda-feira, no famoso “Bar Brahma”, no centro da cidade de São Paulo, sempre com a casa lotada. Já com dificuldade de locomoção, seus últimos shows foram apresentados com o artista sentado durante todo o tempo em que durava o espetáculo. Um ano depois de sua morte, o “Bar Brahma” o homenageou com o projeto “Tributo Cauby”, uma exposição que durou mais de um mês, com painéis de imagens e objetos sobre a vida e carreira de Cauby, além de shows e apresentações cujos temas eram sobre o artista. Cauby Peixoto foi homenageado num carnaval pela escola de samba “Águias de Ouro”, onde desfilou em um carro alegórico, vestido de rei da MPB. Há um documentário lançado no Brasil chamado “Cauby - Começaria Tudo Outra Vez” de Nélson Hoineff. O filme possui noventa minutos e conta toda sua trajetória. A película marcou a reinauguração do “Cine Odeon”, Cauby falou sobre sua sexualidade e outros temas. Ao longo dos noventa minutos de exibição, o público se assenta em três pilares: além da ideia do eterno recomeço, o modelo de interpretação atemporal de Cauby Peixoto e a sinergia entre ele e a plateia, que transcende gerações. O documentário foi o mais rentável e de maior sucesso do ano. O jornalista, crítico e produtor musical Nélson Motta, o classificou como o único cantor tecnicamente perfeito do Brasil. Um túnel na Estrada da Boiúna, Taquara, RJ. (via-expressa Transolímpica) recebeu o nome de Cauby Peixoto. Um ano após o falecimento de Cauby, o cantor Agnaldo Timóteo lançou no “Teatro Net Rio” o CD "Obrigado, Cauby" em homenagem ao amigo e ídolo. Timóteo cantou sucessos como "Conceição" em dueto com Cauby Peixoto, "Bastidores" e "Ninguém é de Ninguém”. No mesmo ano foi homenageado no projeto da “Rede Globo Mar de Culturas”, realizado no “Teatro Popular Oscar Niemeyer”, que recebeu o público para show e conversa com mediação de Fábio Júdice com os cantores Agnaldo Timóteo e Adriana Peixoto, sobrinha de Cauby. O ator Diogo Vilela, que havia interpretado Cauby no teatro no espetáculo "Cauby! Cauby!" uma década antes, voltou a interpretá-lo em um novo projeto que estreou no “Teatro Municipal Carlos Gomes” e no “Imperator” no Rio de Janeiro. Em entrevista, o ator confirmou ter planos de continuar o projeto em homenagem a Cauby. A última apresentação de Cauby Peixoto ocorreu no “Teatro Municipal do Rio de Janeiro”, Cauby cantou ao lado de cantora Ângela Maria com quem estava em turnê de comemoração de sessenta anos de carreira. Cauby Peixoto estava internado para tratar uma pneumonia, mas não resisitiu e morreu.