Walter Clark Bueno
(São Paulo/SP, 14 de julho de 1936)
(Rio de Janeiro/RJ, 24 de março de 1997).
Walter Clark foi importante produtor e executivo da televisão brasileira. Walter Clark e sua irmã mais nova, Lilian Clark Bueno, eram filhos de Milton Nascimento Bueno, técnico em eletrônica e de Lúcia Clark, dona de casa. A família morava em São Paulo, mas, quando Walter tinha seis anos, se mudou para o Rio de Janeiro. Walter Clark começou a trabalhar na “Rádio Tamoio”, de Assis Chateaubriand, como auxiliar e secretário do radialista Luís Quirino. Mais tarde, Clark foi contratado pela agência “Interamericana” e passou a trabalhar em publicidade. Contratado pela TV Rio para o cargo de assessor comercial, Walter Clark iniciou a carreira na televisão. Clark desempenhou diversas funções chegando ao cargo de principal executivo da antiga emissora, de onde só saiu quase dez anos mais tarde, para assumir a direção da TV Globo. Contratado por Roberto Marinho, Walter Clark se tornou primeiro diretor-executivo, depois diretor-geral da TV Globo com o objetivo de reestruturar o setor comercial e, sobretudo, reformular a programação. A TV Globo havia sido inaugurada oito meses antes. Até aquele momento, a emissora apresentava modestos pontos de audiência no Rio de Janeiro, ficando atrás da própria TV Rio, da TV Excelsior e da TV Tupi. Walter Clark deu inicio a virada da TV Globo. Por determinação dele, a emissora interrompeu sua programação durante três dias para realizar a cobertura completa das enchentes que então atingiram a cidade do Rio de Janeiro. Graças a uma campanha de assistência à população desabrigada, batizada ”SOS Globo”, a TV Globo, que já vinha apresentando sensíveis melhoras nos seus índices de audiência, ganhou definitivamente a simpatia do público carioca. Walter Clark foi o responsável pela contratação de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para o cargo de superintendente de produção e programação. Eles já haviam trabalhado juntos na TV Rio. Boni o ajudaria a implantar o modelo de programação que levou a TV Globo ao posto de líder de audiência no país e, juntos, trouxeram para a emissora a noção de continuidade. Foi deles a ideia de levar ao ar um programa jornalístico intercalado entre duas novelas, na faixa de programação considerada o horário nobre, o “Jornal Nacional”, que foi idealizado por Armando Nogueira, também convidado por Walter para ir para a TV Globo e que se tornou diretor de jornalismo após um mês na emissora. Também foi obra dos executivos a estruturação do núcleo de novelas da TV Globo e a criação de diversos programas de grande sucesso, como o "Fantástico" e o "Globo Repórter", entre outros. Walter privilegiou, ainda, a linha de shows da emissora, valorizando eventos como o "Festival Internacional da Canção", cujas edições eram transmitidas ao vivo do ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e criando programas como o "Globo de Ouro", baseado em "Astros do Disco", um antigo sucesso da TV Rio. Walter Clark deixou a TV Globo após a intervenção direta de Roberto Marinho, a época diretor-presidente das “Organizações Globo” e responsável pela contratação de Walter Clark. O salário mensal de Walter foi estimado à época em um e meio milhão de cruzeiros e, após sua saída, iniciou-se uma disputa interna entre José Ulisses Arce (superintendente de comercialização), Joseph Wallach (superintendente de administração) e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que chefiava três setores vitais (programação, produção e engenharia) para ocupar seu cargo na direção-geral da emissora. Depois que a emissora passou a funcionar e atingiu uma posição de liderança, se tornou uma figura quase decorativa, atuando como relações públicas da empresa, fazendo apenas política. Se por um lado essa situação desagradava Clark, por outro lhe permitia um alto padrão de vida. Clark adquiriu carros importados - um Mercedes-Benz e uma Ferrari - uma cobertura duplex na lagoa “Rodrigo de Freitas” - com mil e duzentos metros quadrados - a lancha "Cinderela" - de trinta e sete pés e era considerada um imóvel, não um barco - uma casa em Angra dos Reis, com praia particular e outra casa em Itaipava. Em seu apartamento, encontravam-se móveis coloniais, poltronas modernas, porcelana chinesa, pequenas esculturas egípcias em ferro, estátuas de budas autênticas, bichos javaneses, tapetes persas, elefantes em louça da Índia. Nas paredes, quadros de Manabu Mabe, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, João Câmara Filho, Djanira da Motta e Silva, além de quatro reproduções de Victor Vasarely assinadas. O momento político do país, entretanto, exigia austeridade e os jornais estavam atentos com os gastos do governo com mordomias, somado às constantes notícias de sua presença nos mais caros restaurantes e boates, desagradava Roberto Marinho, já incomodado com o prestígio e a popularidade dele, que, por seu trabalho tinha seu nome mais ligado à TV Globo do que o próprio proprietário. Por esses e outros fatos (e algum folclore), nos seis meses anteriores a saída, tanto Roberto Marinho quanto Clark já sabiam que o relacionamento profissional entre eles caminhava para um desenlace, oficializado na tarde de um sábado, por duas cartas com elogios mútuos, uma assinada por Clark e outra por Roberto Marinho - e, comentava-se, escritas por uma mesma pessoa, Otto Lara Resende, também diretor da TV Globo. Afastado da televisão, teve uma breve carreira como produtor solo de cinema, produzindo alguns clássicos como “Amor Bandido” de Bruno Barreto, "Bye Bye Brasil" de Cacá Diegues, "Eu Te Amo" de Arnaldo Jabor, cujas sequências foram filmadas no interior do apartamento do próprio Walter Clark. Também tiveram sua produção em associação com Luiz Carlos Barreto os filmes "A Estrela Sobe" de Bruno Barreto, "Guerra Conjugal" de Joaquim Pedro de Andrade e "O Crime do Zé Bigorna" de Anselmo Duarte e Lauro César Muniz. Walter Clark voltou a trabalhar na televisão, como diretor-geral da TV Bandeirantes, cargo que ocuparia durante um ano. Walter Clark trabalhou novamente na TV Rio e escreveu com o jornalista Gabriel Priolli a sua autobiografia, "O Campeão de Audiência". Walter Clark presidiu a “Fundação Roquete Pinto”, depois de ter sido vice-presidente do “Clube de Regatas do Flamengo”. Walter Clark era figura galante e conhecido nas noites cariocas pela agitada vida amorosa. Walter Clark namorou com a atriz Regina Rosemburgo Léclary, com a modelo Fernanda Bruni (um filho chamado Fernando), com a atriz Sylvia Bandeira, com a atriz Betty Faria, com a atriz Sônia Braga, com a atriz Sandra Barsotti, com a atriz Sandra Bréa, com a atriz Rejane Medeiros, com a atriz Alcione Mazzeo e com a atriz Dina Sfat. Walter Clark foi casado uma primeira vez (uma filha chamada Flávia) com a atriz Ilka Soares, (uma filha chamada Luciana) com a atriz Maria do Rosário Nascimento e Silva (uma filha chamada Eduarda) e com Rossana Clark (uma filha chamada Amanda). Clark namorava com a artista plástica Eleonora. O corpo de Walter Clark foi encontrado pelos empregados, que estranharam o fato dele não ter pedido os jornais, como fazia todos os dias. Como ninguém respondeu após os empregados baterem na porta do quarto, eles a arrombaram e encontraram o corpo do empresário na cama. O estado de saúde dele era bem delicado, em função da hipertensão arterial que tinha sido detectada havia quatro anos. Walter Clark morreu de insuficiência cardíaca e respiratória.